Formação contínua e desenvolvimento de competências — custo ou investimento?

A edição de 2023 do relatório anual sobre o trabalho do futuro, divulgado pelo Fórum Económico Mundial, refere que “seis em cada 10 trabalhadores precisarão de formação antes de 2027, mas apenas metade tem acesso a oportunidades de formação adequadas atualmente (…)”.

Conseguir adesão verdadeira (e não apenas “presentismo”) às formações proporcionadas pelas empresas é um dos grandes desafios da área de gestão de pessoas. No entanto, colaboradores desmotivados com os programas de formação que lhes são apresentados, infelizmente ainda são a realidade num grande número empresas, atualmente.

Mas porque é que isso ocorre? Vamos abordar duas razões: a ausência de um diagnóstico de necessidades de formação e a crença de que a formação é cara.

1) A ausência de um diagnóstico de necessidades de formação.

Alguns gestores consideram que fazer um diagnóstico de necessidades de formação é desnecessário, pois a observação deles é suficiente para saber o que a equipa necessita, e isso não poderia estar mais incorreto!

O diagnóstico das necessidades de formação é um passo essencial para o sucesso de qualquer programa de formação, pois permite identificar as lacunas em termos de competências, conhecimentos e atitudes dos colaboradores, garantindo que as iniciativas de formação sejam direcionadas, personalizadas, eficazes e alinhadas com os objetivos da organização.

Sem um diagnóstico preciso, sem o envolvimento do público-alvo, a empresa corre o risco de planear formações irrelevantes ou sem resultados tangíveis, o que pode acarretar diversas consequências negativas, comprometendo tanto os resultados da organização quanto o desenvolvimento dos colaboradores, gerando desmotivação, insatisfação, desperdício de recursos (humanos e materiais) e perda de competitividade..

2) A crença de que a formação é cara.

Alguns gestores, acreditando que a formação é cara, programam formações para “cumprir calendário” e satisfazer as 35 horas anuais de formação legalmente exigidas. Para essas organizações, a formação é um custo (desnecessário) ao invés de um investimento sustentável. No entanto, a formação deveria ser vista pela empresa como ela realmente é: um investimento no capital humano, que é o seu principal ativo.

Profissionais capacitados são mais produtivos, cometem menos erros e entregam melhores resultados. O retorno financeiro e qualitativo da formação supera, a médio e longo prazo, o seu custo inicial, uma vez que, por exemplo, a formação pode reduzir os riscos da perda de um cliente devido a um atendimento inadequado ou reduzir a probabilidade de erro numa tarefa crítica.

Por outro lado, a falta de formação gera custos ocultos, como a redução da produtividade, a insatisfação dos clientes, o aumento de acidentes de trabalho e de necessidade de retrabalho e a alta rotatividade dos colaboradores.

Funcionários que recebem formação sentem-se valorizados e têm mais chances de permanecer na organização, o que pode ajudar a reduzir o turnover da empresa, ou seja, a formação fideliza talentos. Recorde-se ainda que a substituição de um funcionário (processo seletivo, integração etc.) é um processo dispendioso.

Para os gestores mais céticos, é possível medir o impacto da formação em termos financeiros (ROI), aliás, é expetável que isso seja feito, uma vez que todos os investimentos da empresa devem ser mensurados e controlados.

A formação melhora a eficiência de um trabalhador ou de um departamento inteiro, o que reduz desperdícios e aumenta os lucros. Também reduz o custo com consultores, suporte técnico e outras terceirizações, já que funcionários capacitados podem resolver problemas internamente, evitando gastos externos.

Veredito: custo ou investimento?

Se os argumentos citados não forem fortes o suficiente para responder a essa pergunta, vale recordar a frase atribuída a Derek Bok, ex-reitor da Universidade de Harvard, que defendia o investimento em educação de qualidade: “Se acha que a formação é cara, experimente a ignorância”.

Na verdade, há muitos anos que a formação contínua deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade estratégica para as empresas, independentemente do setor de atuação. Num mercado em incessante transformação, marcado por avanços tecnológicos, novas exigências regulatórias e expetativas crescentes dos clientes, as organizações precisam de garantir que os seus colaboradores estejam capacitados para acompanhar e superar esses desafios e para assegurar que a empresa prospera nesse cenário.

Nesse sentido e acima de tudo, formação é investimento e, se bem diagnosticada a sua necessidade e bem planeada a sua execução, é um investimento com um retorno significativo a curto, médio e longo prazo. Garantidamente.

Nesse sentido e acima de tudo, formação é investimento e, se bem diagnosticada a sua necessidade e bem planeada a sua execução, é um investimento com um retorno significativo a curto, médio e longo prazo. Garantidamente.